julho 16, 2006

19ª pág.

dela era sempre muito ‘fácil’, bastava pegar
na sua mala prateada… Eu julgava que a
minha cidade era toda pintada da cor
da mala de minha avó, mas ao longo
do tempo que fui conhecendo as ruas paralelas
à casa do sr. Fox e as perpendiculares à
de minha mãe, percebi que me tinha equivocado.
Pouco ou nada conhecia do sr. Fox, sabia, por
minha mãe, que tinha sido ‘um belo homem
aquando novo e com um espírito aventureiro
doentio’, já havia percorrido o mundo inteiro
e sabia falar sete línguas, tantas quantas as
vidas que tinha, dado aos riscos que enfrentava.
Desde que o conheci, todas as quartas-feiras,
fintava o empregado de minha avó que me
ia buscar ao colégio, e rumava ao
refúgio do velho carpinteiro… Passávamos a
tarde a ouvir vinis enquanto ele me contava
estórias de sua juventude. Ele era mesmo
louco. O que fazia com que eu o ouvisse

julho 04, 2006

18ª pág.

‘quero que ouças uma coisa’… Era a
primeira vez que ouvia Jazz, que me lembrasse…
‘é a Big Band do Ellington’ dizia… Eu
vivia na zona rica da cidade com a minha
avó materna, e até àquela idade, ela só
me tinha dado a conhecer as grande óperas
que passavam nos teatros londrinos, uma seca
para uma miúda que ia começar a aprender a
ler… Mas a minha inocência não deixava
que fizesse perguntas ao tempo, afinal, nessa
idade, o tempo é mesmo eterno… Acabei
de ouvir o ‘Take the A train’ e logo percebi que
aquela música tinha algo diferente do que
estava acostumada ouvir, curiosa como eu
própria perguntei ‘porque é que não há violinos
nesta obra’, outro sorriso vi naquelas olheiras
‘acho que o Duke ia aceitar a crítica…’.
Pena ele já ter falecido há 5 anos, pois
como a minha avó dizia, Tudo é possível,
é preciso é querer mesmo… O discurso